O uso pedagógico da Sala de
Informática da escola
Desde o início da década de
noventa alguns governos vêm investindo continuamente no aparelhamento das
escolas públicas com a implantação de Salas de Informática, também
chamadas de Laboratórios de Informática dentre outras denominações.
No mesmo período as escolas particulares também começaram a investir
pesadamente na montagem dessas salas e em equipamentos de multimídia, como
datashows e telões.
A partir do início dessa
década, lá por 2002, muitas escolas já dispunham dessas salas e de um histórico
de uso das mesmas, quase sempre ruim. Agora, no final dessa primeira década, já
temos condições de fazer um bom balanço desse processo e dos resultados
advindos dele. E o balanço é bastante negativo.
A implantação de Salas de
Informática nas escolas se baseou, na maioria das vezes, no pressuposto errado
de que “faltava apenas o computador” para que o processo de modernização das
escolas e do ensino se desse de forma natural, como se isso fosse um processo
simples e automático. Além disso, como nossos gestores políticos entendem muito
pouco de educação, mas adoram fazer “investimentos”, as Salas de Informática
configuraram-se como uma ótima oportunidade para se gastar o dinheiro público
com reformas e equipamentos, mas sem uma preocupação verdadeiramente pedagógica
por trás do investimento.
Ainda no início da década
passada já encontrávamos diversas escolas onde esses computadores estavam
quebrados, desatualizados, sucateados e sem nenhuma manutenção. Agora, já
praticamente fechando a primeira década do terceiro milênio, a situação
continua muito parecida em muitos lugares. Computadores que custaram caro, pois
o poder público é expert em gastar mal o nosso dinheiro, continuam depreciando
em centenas de escola sem nenhum uso por parte dos alunos. Sobre a depreciação
desses computadores e a necessidade econômica (além de pedagógica) de seu uso,
veja o artigo “Quebrando computadores“, escrito originalmente no início de 2005
e republicado aqui nesse blog em 2008.
Paralelamente à falta de
inteligência dos gestores públicos, vimos uma generalizada falta de vontade de
educadores que resistiram bravamente ao uso dos computadores, mesmo quando
estes estavam em plenas condições de serem usados. Sob argumentos que iam do
“não preciso disso” até o “não sei como usar”, foram poucos os professores que
se dispuseram a aprender a usar os computadores de forma pedagógica ou mesmo a
repensar suas práticas pedagógicas diante da necessidade de inserir seus alunos
no universo digital onde eles, os alunos, e o próprio professor, já vivem há
muito tempo.
Agora, passadas duas décadas
desde o início desse processo de inserção das novas tecnologias na escola, já
não faz mais nenhum sentido discutir se vale ou não a pena usar os computadores,
a internet e as TICs de forma geral. O mundo, independentemente da falta de
vontade de alguns professores e da má vontade da maioria dos políticos, já
definiu que não poderá continuar existindo sem essas novas tecnologias. É
simplesmente impossível conceber um mundo e uma escola sem essas tecnologias, a
menos que se faça a opção por uma vida eremita.
Nesse contexto, o uso da
Sala de Informática deixa de ser uma possibilidade a mais e passa a ser uma
necessidade que se impõe tão fortemente quanto a necessidade da lousa e do giz,
que ainda existirão por um bom tempo. Mas como promover esse uso?
Este artigo não pretende
justificar a necessidade de se usar os computadores e a Sala de Informática,
mas ao invés disso pretende apontar algumas possibilidades de uso desse
ambiente de maneira que o professor, mesmo aquele que ainda não se
sente seguro para desenvolver atividades diretamente na Sala de Informática,
possa dar aos seus alunos alguma possibilidade de usá-la, independentemente
dele usá-la também, se for o caso.
Pré-condições mínimas para o
uso da Sala de Informática
Não faz sentido falar em uso
da Sala de Informática se a escola não dispuser de, pelo menos, alguns
requisitos básicos que permitam esse uso:
- A Sala de Informática deve se encontrar
em condições físicas de uso (possuir mobiliário adequado, instalação
elétrica compatível, etc.) e, pelo menos, um computador
funcionando, podendo ou não estar conectada à internet;
- Os alunos devem ter acesso permitido à
Sala de Informática no contraturno do período em que estudam e não apenas
no período de suas aulas;
- Deve haver um conjunto de regras de uso
da Sala de Informática, visível na própria Sala de Informática, e
previamente apresentado, discutido e acordado com os alunos;
- Se a escola não tiver um funcionário que
possa cuidar do acesso à Sala de Informática, deve ser montada uma equipe
de alunos monitores que se encarregarão dessa tarefa;
- A escola deve possuir alguma forma de
garantir a manutenção de software (configuração dos computadores) e,
preferencialmente, também deve possuir alguma manutenção de hardware e
condições de substituir peças que podem se estragar naturalmente, como
mouses e teclados.
Uma boa Sala de Informática
deveria ter em torno de 40 computadores conectados à internet por banda larga
de pelo menos 4 Mb, possuir periféricos (como impressoras, scanners, fones de
ouvido e webcan) e um datashow ou uma lousa digital. Porém, não é necessário
que se tenha uma Sala de Informática como essa para que se possa fazer um algum
uso pedagógico dela, pois mesmo com as pré-condições mínimas descritas acima é
possível usar a Sala de Informática em diversas situações.
Pós-condições mínimas para o
uso da Sala de Informática
Havendo uma Sala de
Informática que atenda esses requisitos mínimos, falta agora saber se há na
escola ao menos um professor disposto a cumprir seu papel de
educador e não apenas o seu compromisso de “doador de aulas”. Na verdade todos
os educadores deveriam ter uma preocupação razoável com a inserção de seus
alunos no mundo tecnológico onde se encontram, mesmo que esses mesmos
professores já tenham jogado a toalha no que diz respeito à sua própria
capacidade de continuar aprendendo.
Um único professor, que
seja, que proponha ou execute atividades para as quais o computador seja uma
ferramenta, já possibilita o uso da Sala de Informática de forma pedagógica. Um
grupo de cinco professores fazendo uso intensivo das TICs já satura a capacidade
da Sala de Informática. Portanto não é preciso convencer aquele professor que
só está preocupado em contar os dias para a sua aposentadoria ou aquele outro
que dá 60 aulas semanais em cinco escolas e se diz sem tempo para fazer outra
coisa que não seja escrever na lousa.
Usando a Sala de Informática
sem nunca entrar nela
Desde que a escola disponha
de uma estrutura que permita o acesso dos alunos à Sala de Informática no
contraturno (por meio de um funcionário encarregado de disponibilizá-la ou
mesmo de um grupo de alunos monitores) é sempre possível propor atividades para
os alunos com o uso dos computadores, mesmo que o professor se sinta
constrangido em adentrar a um ambiente onde ele é, muitas vezes, o mais
ignorante dos presentes.
Todas as atividades listadas
abaixo podem ser realizadas pelos alunos sem a necessidade de um professor que
os acompanhe:
- Pesquisa na internet: os alunos já fazem pesquisas na internet quando seus professores lhes pedem “trabalhos”. O fato de muitos deles devolverem trabalhos que são meramente cópias descaradas de sites, ou mesmo trabalhos já publicados na internet, depende muito mais da incapacidade do professor em propor uma boa pesquisa do que da disponibilidade de sites e trabalhos prontos na internet ou da “desonestidade” dos alunos. Para propor uma boa pesquisa o professor não precisa sequer entrar na Sala de Informática, bastando apenas que ele seja realmente um professor que saiba propor pesquisas (com ou sem internet) e não um “doador de aulas” que ao fim e ao cabo espera mesmo que o aluno lhe entregue um punhado de papel e não que ele aprenda algo com isso. Aqui mesmo nesse blog você encontrará alguns subsídios para compreender melhor o mecanismo de pesquisa na internet (veja, por exemplo, o artigo “Pesquisa escolar na Internet: Ctrl+C & Ctrl+V versus Cópia Manuscrita“) e sobre como propor boas pesquisas.
- Digitação de textos e elaboração de
apresentações: Ao invés de solicitar que os alunos
criem cartazes e os pendurem nas paredes da escola, o professor pode
propor que eles apresentem seus trabalhos usando um projetor multimídia
(se a escola dispuser de um) ou mesmo usando uma TV com aparelho de DVD.
Se o professor não faz ideia de como criar uma apresentação de slides e
então apresentá-la em um datashow ou em um formato de DVD, não tem
problema algum, pois seus alunos, que também não sabem, aprenderão
sozinhos, mesmo que o professor não se disponha a ajudá-los a aprender ou
a aprender com eles. A maioria dos alunos de hoje em dia é bem mais
autônoma do que seus professores e, por isso, conseguem aprender a fazer
coisas que seus professores não conseguem;
- Uso de softwares de criação e edição de
imagens, vídeos e arquivos sonoros: os alunos são capazes
de ilustrar um trabalho com um vídeo produzido por eles mesmos, usando
seus celulares, e posteriormente editado no computador da Sala de Informática,
ou usar o mesmo celular para gravar uma entrevista e depois editá-la no
computador, transcrevê-la para um documento de texto e até mesmo publicar
esse documento na web. Não é preciso que o professor saiba nada disso, e
mesmo se ele não quiser ou não se sentir capaz para aprender, ainda assim
ele pode solicitar isso a seus alunos e certamente eles o farão,
enriquecendo assim sua aprendizagem;
- Busca e uso de materiais didáticos
alternativos: a internet é uma biblioteca
literalmente infinita onde os alunos podem encontrar informações e
materiais didáticos sobre qualquer assunto ou disciplina. Mesmo o
professor que vive limitado aos seus poucos livros, às vezes apenas um,
deve ter consciência de que seu aluno obterá muito mais informação na
internet do que nas suas aulas e, portanto, não deve dispensar esse
recurso como fonte de informação para seus alunos. Evidentemente
esperar-se-ia que um bom professor fosse capaz de indicar os melhores
sites para consulta, os links para bons materiais jornalísticos, etc.,
mas mesmo aquele professor que mal sabe para si mesmo ainda pode indicar
de forma “genérica” que seus alunos busquem mais informações sobre os
temas da aula no “Google”. O hábito de pesquisar informações e conteúdos
na internet tende a se intensificar cada vez mais e em breve poderemos
aposentar enfim os professores cuja única utilidade continua sendo copiar
e colar na lousa os conteúdos pobres que ele dispõe de um ou dois livros
didáticos apenas;
- Aprendizagens colaborativas, redes
sociais e multimeios: na Internet o aluno pode fazer
amigos, discutir assuntos de seu interesse, paquerar e surfar por temas
que não tem nenhuma relação com os conteúdos escolares, mas ele também
pode participar de grupos de discussão, pode tirar dúvidas com professores
que não se sentem “velhos, acabados e desestimulados” e que se dispõem a
ajudar alunos que nem mesmo são seus. Nas redes sociais também se podem
formar grupos de estudo, pode-se paquerar ou fazer a lição de casa “à
distância”, pode-se matar o tempo vendo vídeos engraçados ou assistindo a
experimentos e demonstrações que muitas vezes seus professores se negam a
fazer por “falta de tempo ou de recursos”. Enfim, a internet também é, em
muitos casos, uma escola bem mais útil para o aluno do que a velha sala de
aula chata onde uma voz monótona repete parágrafos copiados de livros
velhos;
Evidentemente há ainda
muitas outras possibilidades para se abandonar seu aluno na Sala de Informática
e, mesmo assim, conseguir dele uma melhor aprendizagem do que a que ele obtém
apenas copiando aquilo que o próprio professor copia dos livros. E,
evidentemente, também há riscos e problemas diversos decorrentes desse
abandono. Mas é melhor deixar que seu aluno usufrua desses recursos na Sala de
Informática do que privá-lo deles só porque o professor se sente incompetente
para acompanhá-lo nessa jornada. Se o professor sente que “não aguenta”, que
ele deixe que seu aluno vá sozinho, ao invés de puxá-lo junto consigo para as
profundezas do atraso.
Usando e estando presente na
Sala de Informática
Para professores que não se
sentem constrangidos em aprender e que se dispõem a participar mais
efetivamente do processo de ensino e aprendizagem com seus alunos, a presença
na Sala de Informática poderá não apenas enriquecer, e muito, a aprendizagem
dos alunos mas, principalmente, enriquecer a sua própria aprendizagem.
Ao propor uma pesquisa aos
alunos e se dispor a acompanhá-los na Sala de Informática, o professor tem a
oportunidade de avaliar conjuntamente a qualidade, pertinência e eficácia das informações
encontradas nos vários sites pesquisados. Estando presente o professor pode
interferir e redirecionar o processo, pode corrigir, acrescentar, modificar e,
acima de tudo, aprender muito mais sobre o conteúdo que ele está ensinando.
Questões transversais mas de
suma importância, como ética, preceitos morais e legais, regras de comunicação
e convivência, cuidados com a privacidade própria e alheia, cidadania e
responsabilidade, são temas presentes e recorrentes em toda navegação pela web.
Quando o aluno trabalha sozinho ele tem que aprender também a lidar sozinho com
essas questões, mas estando acompanhado por um professor, que se supõe poder
orientá-lo nessas questões, ele poderá construir melhor seu caráter e seus
valores enquanto lida com “conteúdos e comandas de trabalho”.
Além disso, estar presente
com os alunos durante a atividade não significa ter a responsabilidade de saber
usar os computadores, os periféricos, os softwares ou o de deter conhecimentos
elaborados sobre os usos e recursos da internet. Assim como os próprios alunos,
o professor será sempre um eterno aprendiz das novas tecnologias e recursos. O
papel do professor na Sala de Informática não é nem nunca foi o de “ensinar
informática”, mas sim e tão somente o papel que ele tem fora da Sala de
Informática: o papel de atuar como professor de sua disciplina e como educador
no que diz respeito à formação integral do indivíduo sob sua tutela
educacional!
Levar uma classe inteira
para a Sala de Informática também requer alguns desafios, mas que nada têm a
ver com a informática em si, e sim com a otimização do uso dos recursos
disponíveis:
- trabalhando em grupos: é a forma mais
racional de contornar a falta de equipamentos. Mesmo assim, quando não for
possível agrupar os alunos em um número de até no máximo quatro por
computador, divida a turma em dois ou mais blocos e enquanto um bloco utiliza
os computadores (em grupos de até quatro alunos), os demais blocos
realizam outras atividades que não requerem o uso do computador,
alternando-se os grupos durante o espaço da aula;
- organizando os tempos: é a forma mais
racional de otimizar o uso da Sala de Informática de maneira a garantir o
uso dos equipamentos por todos os alunos. As atividades realizadas na Sala
de Informática com a presença do professor e da classe toda devem ser
dimensionadas de maneira a permitir sua execução dentro do período da aula;
- preparando previamente a atividade: é a
forma mais racional de garantir a aprendizagem efetiva dos alunos. Assim
como em uma aula tradicional, se o professor entrar na sala de aula sem um
plano de aula previamente elaborado, e permitir que cada aluno faça o que
bem quiser, não haverá aprendizado algum.
- permitindo a aprendizagem colaborativa:
é a forma mais racional de se obter produtividade em um ambiente onde
alguns sabem mais que outros e onde o professor geralmente não é o mais
capacitado para responder as perguntas específicas sobre o uso de
equipamentos e softwares. Os alunos se ajudam e compartilham seu
conhecimento, se sujeitam a aprenderem com os colegas e se interessam por
aprender tanto quanto os mais experientes. Embarque nessa ideia!
O gerenciamento da
disciplina na Sala de Informática segue os mesmos preceitos do gerenciamento em
sala de aula normal quando se tem trabalhos em grupos. As regras de
convivência, respeito mútuo, preservação do patrimônio público e privado,
respeito aos preceitos éticos, morais e legais, devem ser as mesmas da sala de
aula tradicional. Mas, se na sala de aula tradicional seus alunos sobem nas
carteiras, escrevem nos tampos das mesas e atiram papéis uns nos outros, é
muito provável que também o farão na Sala de Informática. De onde decorre
naturalmente que, tendo equipamentos caros na Sala de Informática, não é mesmo
recomendável que professores que não têm competência para administrar suas
turmas as levem para esse novo ambiente (ou para qualquer outro lugar). Nesse
caso a experiência mostra que a ausência do professor oferece menos riscos para
o patrimônio da escola do que sua presença!
Extrapolando o uso da Sala
de Informática
No cenário mais promissor
temos, enfim, um professor que consegue realizar atividades com seus alunos na
Sala de Informática e que propõe atividades que os alunos possam realizar nesse
ambiente no contra turno, como tarefas de casa, trabalhos, pesquisas e outras
possibilidades. Evidentemente os alunos também podem fazer essas atividades em
suas casas, desde que disponham de computadores e acesso a internet, mas mesmo
assim eles tendem a vir para a Sala de Informática para fazer algumas dessas
atividades quando elas são propostas para grupos ou como parte de trabalhos
multidisciplinares.
Nesse cenário, raro, mas já
visível em vários locais, o professor usa os recursos da web 2.0 de forma
compartilhada com seus alunos, troca e-mails com eles, bate papo no MSN, participa
de comunidades do Orkut, de grupos do Yahoo e Google, mantém um blog
compartilhado, usa materiais e recursos da rede e propõe atividades on-line,
síncronas e assíncronas.
Para um professor nesse
nível de inserção com as TICs, a Sala de Informática já deixou de ser um
ambiente “extraclasse” e passou a ser uma extensão da sua sala de aula e esta,
muitas vezes, já extrapolou até os muros da escola e se estendeu pela rede, na
forma de EAD e comunidades virtuais de ensino e aprendizagem. Para esses professores
esse artigo é, obviamente, inútil, mas para todos os outros talvez haja algo
que possa ser repensado e , quem sabe, “pelo menos tentado”.
Um breve relato de estudo de
caso de acesso facilitado à Sala de Informática
Em uma certa escola a Sala
de Informática ficou fechada por muitos anos por falta de professores que a
utilizassem com os alunos e por miopia pedagógica da gestão local que preferia
mantê-la trancada para evitar “danos” do que abri-la para os alunos e permitir
que, pelo menos eles, a usassem. O resultado disso foi que ao longo de meia
década a sala ficou sem uso e, quando foi reaberta, por pressão de um professor
que queria muito utilizá-la, seus equipamentos já estavam danificados pelo
envelhecimento natural, seus softwares estavam ultrapassados e a configuração
das máquinas já não era suficiente para atender às novas necessidades dos
softwares.
Mesmo assim o professor
abriu a Sala, recuperou os computadores, fez upgrade do hardware e dos
softwares onde era possível e passou a utilizá-la. Um ano depois a gestão da
escola foi trocada e a nova gestão aceitou com bons olhos o uso da Sala de
Informática, mas não havia nenhum funcionário disponível para garantir o acesso
dos alunos.
A solução encontrada foi
criar um grupo de alunos monitores cuja função básica era a de abrir e fechar a
Sala de Informática, registrar o uso dos computadores e manter a organização
geral de agendamentos de uso, além, é claro, de ajudar os colegas naquilo que
sabiam. Mas nenhum desses monitores tinha capacitação técnica para realmente
“gerenciar” uma sala de informática ou dar suporte técnico para os demais
alunos além do básico.
Nos quatro anos seguintes a
Sala de Informática funcionou normalmente e não houve uma única ocorrência de
vandalismo, depredação ou mesmo de mau uso dos equipamentos. Todos os defeitos
apresentados nas máquinas deveram-se ao envelhecimento e ao desgaste natural,
como mouses quebrados, monitores pifados, teclados com defeito ou mesmo placas
de rede queimadas.
Nesse período todos os
alunos utilizaram a Sala de Informática nos períodos da manhã e da tarde,
onde havia monitores, quase sempre sem a presença de algum professor ou
funcionário da escola. Eles mesmos passaram a cuidar da manutenção do software
das máquinas, da limpeza e conservação da sala e, alguns com conhecimentos mais
técnicos, se ofereceram para pequenos consertos. Não se registrou nem mesmo um
único rabisco no mobiliário.
Com o tempo mais professores
passaram a usar a Sala de Informática com seus alunos, ou propondo atividades
que poderiam ser potencializadas com o uso da Sala de Informática de maneira
autônoma pelos alunos. Aos poucos a cultura de uso e conservação da Sala de
Informática foi sendo construída e todos os mitos provenientes da ignorância e
da preguiça (“os alunos são vândalos e quebrarão as máquinas”, “vão usar a sala
para tudo, menos para aprender”, etc.) foram sendo abandonados diante da
realidade nua e crua de que a Sala de Informática é um patrimônio da comunidade
escolar e não uma caixinha de brinquedos da gestão local ou uma grande caixa de
Pandora, de onde sairão todos os monstros dos pesadelos de professores
descomprometidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário